A violência doméstica se faz agora, na pandemia, mais presente nos lares
Com a pandemia causada pelo coronavírus, período dificílimo pelo qual o mundo está passando, a violência doméstica se faz mais presente nos lares. Hoje as famílias se encontram com mais problemas psicológicos e financeiros do que nunca. Há o desemprego, há o medo de adquirir o vírus do COVID 19, há tantas famílias passando necessidades de alimentação, há a desesperança quando vemos os alimentos, o combustível, o gás de cozinha subirem quase diariamente… As crianças estão em casa, sem escola, sem creches e são agitadas, querem as coisas, querem sair, querem comer, querem atenção, querem brincar! Enfim, são crianças! Nossos jovens, ah nossos jovens, que pena, não há mais encontros, não há mais “paqueras”, conversas, risadas, trabalhos em grupos… Estão em casa, e se tiverem celulares é neles que “moram”…
E os pais, os responsáveis? Nervosos, ansiosos, às vezes descontando as mágoas, raivas, preocupações e frustrações nos filhos, nos enteados, nas próprias companheiras… A crise financeira, as inseguranças sobre o contágio do vírus, o confinamento de crianças e adultos às vezes em espaços apertados e sem lazer podem ser motivos para que aconteçam mais as violências domésticas como a violência física, os castigos severos, a violência psicológica e até a violência sexual. Esse ambiente conturbado é estressante, causa uma maior irritabilidade nas pessoas e torna-se um ambiente propício à violência doméstica. E as estatísticas confirmam o aumento dessas ocorrências em meio à pandemia e ao isolamento social, principalmente no local onde deveriam se sentir mais seguras: em suas próprias casas.
Com o fechamento das escolas, que está sendo imprescindível para se evitar o aumento do contágio enquanto a maioria das pessoas não está ainda vacinada, há um aumento de subnotificações da violência, porque é no convívio com professores e outros profissionais do ambiente escolar que casos de violência contra crianças e adolescentes podem ser identificados e muitas vezes notificados aos órgãos competentes. Assim, é muito importante que parentes e os mais próximos tenham
um olhar mais cuidadoso com as crianças e os adolescentes, a fim de identificar os sinais de alerta de ocorrência de violências contras eles, prestando atenção a barulhos de agressão, atitudes estranhas da família e comportamentos inadequados dos indivíduos.
Quando se trata de violência doméstica, estas podem ser diretas quando as crianças e os adolescentes são as vítimas das violências ou indiretas, nos casos em que presenciam a violência sofrida por outra pessoa. Nas duas situações, observam-se prejuízos na saúde física e mental destes, os quais podem ocorrer a curto e em longo prazo.
Por isso, que zelar pelas crianças é uma tarefa de todos, ou seja, dos profissionais dos diversos órgãos, dos familiares e da comunidade. As denúncias de casos de violência contra a criança e ao adolescente podem ser realizadas por qualquer indivíduo que reconheça a situação de agressão, seja esta física, verbal, psicológica ou negligencial.
O Conselho Tutelar é o órgão responsável para receber essas denúncias. Também é possível através do Disque 100, que é nacional e gratuito, fazer a denúncia, até de maneira anônima.
A situação é grave, mas essa pandemia irá passar, e como seria bom se com ela também passassem as violências contra as crianças e adolescentes, que fossem erradicadas. Que a saudade do movimento dos alunos nas escolas, do barulho das crianças, da agitação na rua do entrar e sair nas escolas, a saudade dos trabalhos em grupo, da reunião de pais, das nossas capacitações presenciais… a saudade dos abraços, dos beijos, do olho no olho, das conversas jogadas fora, daquele abraço gostoso do encontro com uma criança querida na rua, se sobreponham a dor de ver e sentir uma criança violada.
Mércia Fuzetti de Almeida Troncon, Psicóloga colaboradora da APROCAF